Aqui na Java Chocolates, nós nos preocupamos muito com a matéria prima que usamos. Ela vai além da análise sensorial – queremos saber sua origem, como foi embalado, se foi manipulado fora da fábrica / usina de beneficiamento e como essa manipulação ocorreu. Também queremos saber como ele foi transportado em todas as etapas da cadeia, o que torna o trabalho bastante difícil.

Exagero?

Acontece que buscamos atender com respeito uma classe que ainda tem muita dificuldade para se alimentar no Brasil: a classe de pessoas alérgicas, sensíveis e intolerantes a determinados alimentos.

Realmente não sei qual a porcentagem este grupo representa diante da população brasileira, pois aqui quando falamos sobre segurança alimentar, independente de quão baixo for este número, sabemos que precisamos tomar todo cuidado.

O motivo?

Simples. Eu faço parte deste grupo, e sinto na pele o que é o descaso do nosso país e nossa indústria com quem tem necessidades alimentares especiais.

Já sofri muito com a falta de verdade nas informações, a falta de cuidado, com a falta de conhecimento de pessoas que deveriam ter pelo menos uma noção de segurança alimentar para alérgicos, intolerantes e sensíveis. 

Você pode estar pensando: “Ora, quem tem problema que se cuide, a vida é assim mesmo”, e eu concordo com você!

Mas se eu sou celíaca, preciso que alguém saiba me informar COM CERTEZA se aquele produto não tem glúten, se foi armazenado junto com produtos que contenham glúten ou preparado utilizando utensílios que anteriormente estiveram em contato com o glúten .

Aí que a coisa complica.

Neste post vou contar um pouco como foi a minha história.

DESCOBERTA TARDIA.

Fui uma criança doentinha. Tinha crises de dor de garganta frequentes, dor de ouvido e alergias na pele.

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Na adolescência os problemas continuaram frequentes, e pioraram conforme minha rotina ficava mais intensa, chegando a passar 1 semana ruim e 3 semanas boas. A lista de sintomas aumentou: Tinha tudo quanto era doença e dores!

Conciliando uma rotina alucinante, culpei a falta de sono, o estresse, poluição e até o ar condicionado da empresa em que trabalhava por minha fragilidade. Cansada e assustada, decidi desacelerar um pouco para cuidar da minha saúde.

De médico em médico, de exame em exame, de remédio em remédio, percorri um longo e demorado caminho até começar a relacionar um monte de sintomas desconexos com a alimentação.

Descobri a intolerância a lactose com 23 anos e passei a me sentir bem melhor tirando o leite e derivados de minha vida, porém os sintomas não desapareceram completamente.

Dairy_Free

Não me conformei e lá fui eu percorrer novamente outro longo e demorado caminho para tentar identificar a raiz do problema, e foi só com 28 anos que descobri a doença Celíaca.

sem gluten sem lactose

Acho que todo mundo que tem algum problema de saúde já passou por isso, né?

Mas tudo valeu a pena: desde que ajustei minha dieta e passei a segui-la rigorosamente, posso contar nos dedos quando fiquei doente!

Ainda tenho uma reação alérgica tópica (coceira nos lábios seguidos de ferimento) que acontece após ingerir alguns alimentos – ainda não consegui identificar o ingrediente que dispara a reação – sigo investigando.

ADAPTANDO-SE À NOVA DIETA

Como em muitos lares brasileiros, eu meus meus irmãos fomos criados tomando leite com café e comendo pão com manteiga pela manhã.

Já adulta e morando sozinha, um dia acabou o leite em casa e decidi tomar um chá no café da manhã. A rotina insana que eu levava só me permitiu ir ao supermercado uma semana depois, e notei que aqueles dias tinham sido incrivelmente produtivos.

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Parece simples, mas este foi o gatilho que me fez investigar a fundo a possibilidade de alergias alimentares..

Olha, adaptar-se a uma dieta restritiva não é fácil pra ninguém. Muita gente acha que se você não pode comer determinado alimento, a vontade de comê-lo simplesmente passa!

– “Ah, mas fica mais fácil fazer dieta se você não pode comer glúten e tomar leite!”

Quem dera! Infelizmente, a realidade é bem diferente disso! Você repara que tudo que você acha gostoso vai leite ou tem glúten.

Não é fácil deixar de amar petit-gateau!

Não é fácil desapegar do petit-gateau, com ou sem alergia!

Você começa a perder a vontade de sair para jantar pois sabe que seu estômago vai suplicar por algo que você não pode comer. Seus amigos começam a perguntar assustados: mas então o que você come??? Você começa a procurar substitutos para os alimentos que já consumia, e fica decepcionado pois o sabor e a textura não são o que você espera. Você encontra substitutos gostosos e vê que são pobres nutricionalmente, te fazendo sentir muito mais fome que o normal e engordar.

Você aprende o que vai leite e o que tem glúten, mas o fabricante ou o chef quer fazer uma graça e resolve colocar esses componentes em produtos que não precisam deles, e você se sente traído!

Chocolate com glúten: Por que, por que????

Chocolate com glúten? por quê? POR QUÊ???

Você manda a dieta pro espaço num dia de revolta e sofre as consequências por semanas. O começo é desesperador, mas a persistência e o tempo vão clareando a cabeça da gente. Procurei excluir os alimentos gradativamente, para que não pensasse em desistir.

Comecei a ficar muito crítica com os produtos que comprava, e prestar atenção à carga nutricional. Muita gente acha que “sem glúten” e “sem lactose” sem açúcar sem gordura são sinônimos de coisas saudáveis, mas não são.

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Adaptei minha rotina para poder cozinhar mais em casa, escolhendo os ingredientes que vão para a panela. Aliás, esta é minha prioridade número um – todos meus compromissos são pautados levando este compromisso em conta.

Passei a valorizar mais os alimentos naturais ou minimamente processados, principalmente pela falta de cuidado dos fabricantes e manipuladores com a contaminação cruzada.

Isentos de glúten e lactose.

Isentos de glúten e lactose.

Mudei a forma de pensar em comida, reduzindo a dependência dos substitutos. Deixo-os para ocasiões especiais. Este final de semana, por exemplo, meu marido queria comer cachorro quente. Ok, compramos pão sem glúten para que eu pudesse acompanhá-lo, mas, no dia a dia, não comemos pão nem tomamos leite no café da manhã.

É lógico que é chato entrar numa sorveteria e não comer os cremossíssimos sorvetes a base de leite ou passar pela sessão de padaria do supermercado e sentir aquele cheiro delicioso de pão quentinho saindo do forno…

Mas fazer o quê? Respeito meu corpo, lembro muito bem de como ele responde a estes alimentos e prefiro permanecer saudável a ter momentos de prazer dos quais me arrependerei depois. E justamente por levar tão a sério tudo isso, não sosseguei enquanto nossos produtos não refletissem o que penso e como vivo.  Portanto celíacos, intolerantes, alérgicos e diabéticos, podem ficar tranquilos: nós jogamos no mesmo time e sabemos do que estamos falando.

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2 thoughts on “Sobre alergias, intolerância e sensibilidade alimentar

  1. Fernanda disse:

    Amei sua história. Sou celíaca há mais de 10 anos e foi bem dificil minha adaptação.
    Hoje resolvi parar e dedicar em fazer bolos sem glúten, sem lactose e sem açúcar.
    Com certeza vou utilizar seus produtos em minha confeitaria.

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