Isso aconteceu numa segunda-feira a tarde, eu tava trabalhando de casa e recebo um áudio do Percival, nosso gerente de operações. Eu mal conseguia ouvir o que ele tava dizendo de tanto barulho de chuva que caia no telhado de zinco do galpão.

Ele disse: meu – ele é paulista – meu, tá maió toró aqui! Lá em casa tava chovendo forte também, respondi “beleza, aqui também tá osso”.

Já passamos por muitas chuvas fortes neste galpão, que é bem reforçado. Em 2018 já tivemos problema com granizo em outra fábrica, e quando nos mudamos para esse lugar, fizemos tudo para garantir que não acontecesse novamente.

Só que de repente a chuva começou a ficar muito forte, e começou a cair granizo violentamente. O barulho era ensurdecedor, o vento tava tão forte, que abria os portões de aço do galpão. Ele precisou passar um ferrolho para manter os portões de 3 metros de altura fechados.

Dá uma olhada neste vídeo:

Minutos depois começou a entrar água por baixo dos portões, brotar das tampas de esgoto. As calhas começaram a entupir com o gelo e transbordaram, daí começou escorrer chuva pelas paredes da lateral do galpão, onde fica nosso primeiro estoque.

Lá tem aquelas telhas transparentes para dar luminosidade no ambiente, e elas são de plástico. Com o peso do granizo, começaram a ceder e foi aí que literalmente CHOVEU dentro da fábrica! Era muito mais água do que nosso sistema de escoamento estava preparado para suportar.

Eu via nas câmeras o Percival correndo pra todo lado desesperado para cobrir o cacau e os chocolates, até uma hora que tudo tava acontecendo ao mesmo tempo e ele travou: ficou congelado olhando aquela água toda desabar na sua frente, com um sentimento de impotência total.

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E eu assistindo tudo a distância. Moro longe da fábrica, e essa chuva passou detonando tudo na estrada que liga minha casa a Java: derrubou árvore, retorceu placas, arrancou telhados – e o trânsito estava impossível, a chuva muito forte. Me deu um nó no estômago de não poder fazer nada!

Minha sorte é que o Percival, o Josias e o Lucas da produção ainda estavam lá, tinham ficado um pouco mais para esperar a chuva passar.

Na hora eles ajudaram a cobrir o que precisava, e tentaram recuperar fardos de embalagens que pegaram água. Me contaram que pegavam os pacotes de embalagem e eles desfaziam nas mãos, de tão molhadas que estavam.

A tempestade do jeito que veio, se foi. Os meninos heróis saíram 2 horas depois, sem nem precisar de guarda-chuva.

No dia seguinte foi hora de arrumar tudo. Aí fizemos um mutirão com a equipe toda para limpar, organizar e contabilizar as perdas. Todo mundo se envolveu, e no fim do dia, nem parecia que tinha acontecido nada.

Mas as perdas materiais aconteceram, isso não dá pra negar. E justamente em uma época do ano típica de baixa de vendas, com alta inadimplência, próximo de pagar décimo terceiro, e no fim da safra do cacau. Haja fluxo de caixa!

Ao longo de anos empreendendo, a gente vai criando uma casca grossa e aprendendo a lidar com os imprevistos. Pra falar a verdade, o dia de um empresário, comerciante, empreendedor é cheio de pequenos incêndios para apagar.

Pela manhã você fecha aquela super venda que tá há muito tempo tentando fazer, e a tarde um colaborador chave pede demissão. Tudo no mesmo dia.

Com a chuva foi justamente isso. Eu publiquei um vídeo da chuva no Instagram para explicar para as pessoas que estavam esperando seus pedidos serem enviados, que iríamos atrasar um pouco.

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Nós somos prezamos muito pela rapidez na entrega, então achei importante avisar sobre o possível atraso.

E olha, esse post foi o que teve mais visualizações e engajamento de toda a história da Java. Muita gente mandando carinha triste, gente preocupada com as pessoas, e gente querendo vir ajudar!

Recebemos muitas mensagens carinhosas que deram aquela animada depois da confusão. Uma cliente enviou o vídeo de sua filha comendo chocolate toda feliz com a mensagem: minha filha é alérgica e ficou 3 anos sem poder comer chocolate até conhecer a Java. Hoje ela come tranquila, e ADORA!

Ah pronto! Encheu o olho de água! Trabalhar com propósito é difícil, muita gente não entende, todo momento tem alguém desdenhando da ideia, ou querendo botar preço no serviço da gente.…. Mas quando sentimos um reconhecimento desse, a sensação é indescritível!

Eu tentei agradecer todas as mensagens que recebemos, talvez algumas ficaram perdidas e peço perdão por isso e agradeço novamente todo mundo que mandou energia positiva aqui pra gente!

Eu gosto de responder tudo mundo, curtir, compartilhar… Nem sempre consigo, pois as mensagens se perdem nas caixas de entrada do Instagram e do messenger, mas eu sei que uma simples reação de carinha já faz diferença para todos nós.

Já parou pra pensar nisso? Não custa nada reagir na publicação de uma pessoa, e para ela, pode significar tanta coisa! Quem sabe o que está passando na vida dela naquele momento, né?

Mas não vou falar sobre esse assunto, senão o texto vai ficar ainda mais longo!

Por aqui está tudo bem, já consertamos o que precisava, reforçamos umas telhas para que não aconteça de novo, e estou mobilizando caixa para pagar os prejuízos.

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Se você quiser ajudar, acesse nossa loja e compre alguns chocolates que você gosta – essa é a melhor maneira!

Muito obrigada a todos que se comoveram, de toda a equipe Java! Os nossos coelhos (apelido carinhoso que temos na fábrica) já foram reconhecidos publicamente pelo trabalho e empenho!

Meus textos são bem técnicos e funcionais, não costumo usar este espaço pra escrever sobre o dia a dia da gestão da fábrica. Se você leu até aqui e gostou de ter esse ponto de vista, comenta aqui pra eu saber! Obrigada!

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